1: Algum tempo depois, em um dia de festa religiosa, foi preparado um grande banquete na casa de Tobit.
2: Ele disse então ao seu filho: “Vai buscar alguns homens piedosos de nossa tribo para comerem conosco”.
3: Ele saiu, mas logo voltou, anunciando ao pai que um dos filhos de Israel jazia degolado na praça. Tobit levantou-se imediatamente da mesa, sem nada haver comido e foi aonde estava o cadáver.
4: Tomou-o e levou-o clandestinamente para a sua casa, a fim de sepultá-lo com cuidado depois do sol posto.
5: Tendo escondido o cadáver, começou a comer com pranto e tremor,
6: lembrando-se do oráculo que o Senhor tinha pronunciado pela boca do profeta Amós: “Converterei vossas festas em luto, e vossos cânticos em elegias fúnebres” (Am 8,10a).
7: Quando o sol se pôs, ele foi e o sepultou.
8: Seus vizinhos criticavam-no unanimemente, dizendo: “Já uma vez ordenaram que te matassem, precisamente por isso e mal escapaste dessa sentença de morte, recomeças a enterrar os cadáveres!”.
9: Mas Tobit temia mais a Deus que ao rei e continuava a levar para a sua casa os corpos daqueles que eram assassinados, onde os escondia e os inumava durante a noite.
10: Ora, aconteceu que um dia, cansado desse trabalho, foi para a sua casa e deitou-se junto à parede onde adormeceu.
11: Enquanto dormia, caiu-lhe, de um ninho de andorinhas, esterco quente nos olhos e ele tornou-se cego.
12: Deus permitiu que lhe acontecesse essa prova, para que a sua paciência, como a do santo homem Jó, servisse de exemplo à posteridade.
13: Como havia sempre temido a Deus, desde a sua infância e guardado seus mandamentos, ele não se afligiu (nem murmurou) contra Deus por ter sido atingido pela cegueira.
14: Mas perseverou firme no temor de Deus e continuou a dar-lhe graças em todos os dias de sua vida.
15: Assim como o bem-aventurado Jó foi insultado por outros chefes, assim seus parentes e amigos escarneciam de seu comportamento:
16: “Onde está – diziam eles – essa esperança por cujo amor deste esmolas e sepultaste os mortos?”.
18: somos filhos dos santos (patriarcas) e esperamos aquela vida que Deus há de dar aos que não perdem jamais a sua confiança nele”.*
19: Ora, Ana, sua mulher, ia todos os dias tecer e trazia o que ela ganhava com o trabalho de suas mãos.
20: Foi assim que, tendo trazido para casa um cabrito que recebera (como gratificação),
21: seu marido ouviu-o balir e disse: “Vê que ele não tenha sido roubado; restitui-o ao seu proprietário, porque não nos é permitido comer e nem mesmo tocar, o que foi roubado”.
22: Ao que lhe respondeu sua mulher com indignação: “Tua esperança é manifestamente vã; agora tuas esmolas mostram bem o que valem!”. Com essas e outras palavras semelhantes ela censurava-o duramente.